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Tributo a Celso Frateschi

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Ao fechar os olhos em direção à eternidade em 25.02.23, aos 81 anos, meu pai encerrou uma jornada de dedicação integral a Frateschi e ao modelismo ferroviário. Mais que isso, tudo a que este homem se dedicou era feito com perfeição nas várias frentes que tomou ao longo de sua vida, seja como aeromodelista nos anos 50-60, ferreomodelista, empresário, antigomobilista e professor da área da mecânica. Extremamente dedicado a tudo que fazia e de inteligência acima da média, sua contribuição e seu alcance permanecem vivos.

Tudo que foi feito e realizado nesta fabrica teve a participação dele que junto com meu avô, edificou do zero a Frateschi. Ele me dizia que “na Frateschi eu fiz de tudo, desde projetar, tornear rodinhas, estampar peças, injetar vagões, enrolar motores, montar vagões, testar locomotivas, etc. De uma iniciativa pequena em 1967, quando a Frateschi operava ainda na casa de meu avô, a empresa cresceu e ampliou seu leque de produtos, indo e avançando conforme seus limites e as fronteiras impostas pela conjuntura brasileira. Recordo, ainda pequeno, as muitas dificuldades que meu pai enfrentou. Uma delas em 1984, quando meu avô faleceu, meu pai se viu sozinho e sem conhecimento da área administrativa. Ele que era engenheiro mecânico de formação se adaptou e seguiu adiante. Nos anos 90 com a chegada de diversos planos econômicos (Collor e Real) várias empresas tiveram suas operações encerradas. A Frateschi enfrentou inúmeras dificuldades e com espirito de resiliência e persistência se manteve de pé.

Meu pai tinha por filosofia de vida que este “brinquedo fino”, que é o trem em miniatura, deveria ser acessível a todos e para isso se dedicou. Fez produtos que evoluíram em qualidade ao longo do tempo, sem deixar que a ganância incomodasse ou impusesse um preço, por demais alto, para que um pai de família pudesse oferecer esta diversão a si mesmo ou a seus filhos.

Produtos de impacto como a V8, lançada em 2004, foram um marco no desenvolvimento da Frateschi e representou um enorme desafio e grande avanço pela dificuldade de projeto e engenharia. De imponência eterna, a V8 em suas pinturas da Cia Paulista de Estrada de Ferro, RFFSA e Fepasa, ainda hoje, é um item imprescindível em qualquer maquete.

Sempre disposto a ampliar e divulgar o modelismo ferroviário a nível Brasil meu pai fez em 1979, os “Informativos Frateschi”, onde ele datilografava todas as edições. Rodávamos este pequenos livretos e mandávamos por correio. Essa publicação foi substituída, anos mais tarde, pela “Revista Brasileira de Ferreomodelismo”. Ele e a Frateschi foram os pioneiros na criação de conteúdo informativo dentro modelismo ferroviário a amantes do trem. Em 1997 para celebrar os 30 anos da empresa começou com os “Encontros Frateschi”, onde pessoas de todo o Brasil se reuniam para ver possibilidades de lançamento da empresa, encontrar amigos, trocar ideias e aprendizado e, um tempo de qualidade. Era uma ocasião de divulgação do ferreomodelismo e da empresa. Iniciativa essa que pioneira na amplitude deu modelo a tantos outros eventos que hoje existem, a nível nacional.

Dentro da empresa, tinha um estilo democrático de lidar com problemas setoriais e optava por ouvir a todos os envolvidos, antes de tomar qualquer decisão. Acreditava que o tempo iria criar situações que privilegiariam o melhor caminho. Importante pontuar que enquanto muitos pais e filhos, ao se verem no mesmo local de trabalho, tolamente buscam medir forças e geram uma competição desnecessária e, vezes por outras, desastrosas, aqui isso nunca ocorreu. As divergências de trabalho jamais poderiam causar um afastamento a nível familiar. Com paciência e sabedoria soube, a seu tempo e a seu modo, dar espaço a esse que vos escreve, deixando que a empresa também pudesse absorver um novo estilo de comando, que não era o dele, pois compreendia a finitude da vida. Ele certa vez disse que “bateria em um fim de linha qualquer”.

Como professor da área de mecânica, sua outra paixão, deixou seu legado de conhecimento e estilo de aula e foi homenageado diversas vezes dentro da Unip em Ribeirão Preto, onde lecionou por 20 anos, como “paraninfo” e “nome de turma” e era considerado por muitos, até seu desligamento em 2021, o melhor professor da área dentro dessa universidade. De fala mansa e jeito pacato tinha um modo de vida apaziguador que fugia de conflitos. Eu costumava dizer que ele era o próprio muro e não tomava lado. Deixava o tempo agir sem acelera-lo. Ainda assim, quando a vida bateu, ele rebateu. Muito querido por onde passou, cumpriu sua missão. Seu exemplo, sua personalidade altruísta e gentil, seu modo e estilo de vida, que vão além da empresa, são motivos de orgulho e de celebração. Produto de uma cepa que não existe mais.

escrito por
Lucas Frateschi
filho de Celso Frateschi